Não há dúvidas que o avanço do conhecimento
a si próprio nos faz deparar com espelhos existenciais cada vez mais nítidos, e
que se bem observados, são capazes de constranger até a alma do sujeito mais altivo.
A segunda seção de I Timóteo nos fala
exatamente sobre isso, Paulo nos fala sobre o "Cristo que veio ao mundo
para salvar pecadores" (vs. 15), e que esta verdade aplica-se a ele, pois
ele é "o principal" dos pecadores, alvo perfeito da concessão da
"misericórdia, para que nele fosse evidenciada a completa
longanimidade" de Cristo, e assim ele pudesse "servir de modelo a
quantos hão de crer nEle" (vs. 16).
Só se pode chegar a conclusão de ser o
principal dos pecadores, após ter se deparado com o espelho da Verdade, antes
disso, até os atos mais perversos como homicídio, blasfêmia e insolência,
frutos da ignorância e incredulidade (vs. 13) fazem parte, de forma natural na
vida de um ser que não obteve o transbordamento da graça (vs. 14).
O "x da questão" não é acreditar
ou não em Cristo, não é seguir ou não o evangelho, mas é sim, se deparar com
uma realidade que faça das nossas mais absolutas verdades e crenças apenas
contos de história infantil.
As nossas crenças construídas no decorrer
da nossa vida só podem ser atestada como verdades intocáveis no final da
jornada como afirma Kierkegaard: "Não se louve nenhum homem como feliz
enquanto ainda viver; enquanto ele viver, a boa sorte pode mudar-se, só quando
ele tiver morrido, e a boa sorte não o tiver abandonado enquanto ele viveu,
somente então se mostrará que ele foi feliz" (Obras do Amor, p. 48).
Ousadamente acrescentaria a fala do
filósofo que, além da morte, uma experiência que transcende a "boa
sorte" das nossas verdades temporais, pode nos levar a enxergar que o
óbvio nem sempre é o correto, que o comum pode ser incomum e que sempre
estivemos com os pés em cima dos arames farpados da nossa existência.
Só veremos os nossos pés machucados pelas
farpas da vida se um dia Alguém ou Algo nos mostrar que há caminhos alternativos onde sempre haverá alguém para cuidar do machucado causado pela farta, todavia, os machucados sempre nos serviram sempre de
lembrança da onde viemos a fim de podermos dar "honra e glória, pelos séculos
dos séculos ao Rei eterno, imortal invisível mas real" (vs. 17).
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